Você sabia que já existiam catálogos no terceiro milênio antes de Cristo?
E que o código de catalogação da Vaticana era amplamente ensinado e utilizado no Brasil antes da criação do AACR? E que MARC21 significa formato MARC para o século XXI?
Embora a história da Catalogação não seja assim tão explorada em concursos, ela esclarece e muito tópicos bastante cobrados, como FRBR, ISBD, Princípios de Paris, formato MARC bibliográfico, entre outos.
Vem cá e entenda de vez de onde as coisas vieram e pra onde as coisas vão quando o assunto é Catalogação e como isso é cobrado em concursos.
Obs.: Esse conteúdo faz parte da primeira aula do módulo de catalogação do meu curso preparatório para concursos. As informações foram compiladas das referências bibliográficas citadas ao final do post, mas principalmente dos livros da ¨Catalogação no plural¨, das professoras Mey e Silveira, e do livro ¨RDA versus AACR2¨, da professora Memória.
Panorama Histórico da Catalogação (MEY, SILVEIRA, 2009; RIBEIRO, 2018)
Terceiro Milêncio a.C.
👉 Biblioteca de Ebla – Síria (mais antiga que se tem conhecimento).
Possuía ente 15 e 17 mil tábulas de argila, correspondendo a cerca de 4 mil documentos, organizados em estantes de acordo com seu conteúdo temático. Também apresentavam tábulas com o resumo dos documentos.
1839
👉 Anthony Panizzi: publica 91 regras para aplicação no Museu Britânico, considerado o primeiro código de catalogação propriamente dito.
1850
👉 Charles Jewett: idealizador do catálogo coletivo, publicou o Código para o Smithsonian Institution de Whashington, baseado nas regras de Panizzi.
1876
👉 Charles Cutter: embora mais conhecido pela tabela de Cutter, que fez em parceria com a Sanborn, Cutter criou o Rules for a dictionary catalog, código que consiste em 369 regras, abordando entradas por autor e por título, parte descritiva, cabeçalhos de assunto e, ainda, alfabetação e arquivamento de fichas.
Esta já era uma catalogação orientada ao usuário: os objetivos e propósitos do catálogo estabelecidos por Cutter foram os mesmos especificados na Conferência de Paris (1961) e estão presentes mais do que nunca hoje, em todos os estudos sobre catalogação, influenciando, inclusive, as tarefas dos usuários apresentadas nas FRBR (1998).
1899
👉 Instruções prussianas: elaboradas para os catálogos alfabéticos das bibliotecas prussianas. Exerceram grande influência em países de língua alemã.
1901
👉 Library of Congress (LC): a LC começou a imprimir e a vender suas fichas impressas. Ao invés de cada biblioteca elaborar a própria catalogação de seus livros, a LC passou a vender suas fichas impressas, às quais bastava que fossem acrescentados os cabeçalhos, também por ela indicados.
1908
👉 Código da American Library Association (ALA): quando as fichas começaram a ser impressas, a American Library Assotiation nomeou uma comissão para estudar as regras adotadas pela LC e publica a primeira edição de seu código em 1908, em parceria com a Library Association da Inglaterra (Regras de catalogação: entradas de autores e títulos).
1931
👉 Código da Vaticana: exerceu enorme influência na Biblioteconomia brasileira a partir de sua tradução para o espanhol (1940) e, depois, em suas duas edições em português (1949 e 1962). Ensinava-se a Vaticana no curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional, sendo adotada por inúmeras bibliotecas até os anos 80.
1941
👉 Publicado o Código da ALA – 2ª edição preliminar.
1949
👉 Publicado o Código da ALA – 2ª edição.
1954
👉 Criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD): produzia fichas impressas, a exemplo da LC. Publicou a 2ª edição do Código da Vaticana, dentre várias atividades importantes para a Biblioteconomia brasileira. Em 1975 mudou o nome para Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).
👉 A IFLA institui um grupo de trabalho com representantes de vários países para preparar a coordenação internacional dos princípios de catalogação, redigir um relatório sobre os princípios a serem observados no estabelecimento de entradas para obras anônimas e de autoria coletiva.
O relatório concluído recomendou um programa de consultas a especialistas de vários países e essa recomendação consolidou a organização de uma reunião: a Conferência de Paris.
1961
👉 Aconteceu a Conferência de Paris, ou, Conferência internacional sobre princípios de catalogação: foi o primeiro evento no sentido da normalização internacional da catalogação, que estabeleceu os Princípios de Paris.
Sobre os Princípios de Paris, vale ressaltar que:
- são princípios, não regras;
- não foram considerados internacionais, devendo cada país se encarregar de ajustá-los às suas necessidades;
- ressurgiram atualizados e e ampliados em Frankfurt (2003) na Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação ou Declaração de Frankfurt, como veremos adiante.
1965-66
👉 A década de 60 trouxe o desenvolvimento dos recursos computacionais. A tecnologia avança e é preciso acompanhá-la ou usufruir dos seus benefícios. Surge, nesse contexto, o Projeto Marc (Machine Readable Cataloging, isto é, Catalogação Legível por Computador)
1967
👉 A Alemanha substitui as Instruções Prussianas pelas Regras de Catalogação Alfabética, que incorporavas as modificações sugeridas na Conferência de Paris.
👉 Publicada a Anglo American Cataloging Rules – AACR. Trabalho conjunto da ALA, Canadian Library Association e Library Association (Inglaterra), foram publicadas duas versões, por não haver um consenso: uma americana e uma inglesa.
1968
👉 É desenvolvido o Marc II, em uma cooperação entre a LC e a British Library. O Marc II serviu de base para inúmeros outros formatos, como:
- CAN/MARC (MARC Canadá)
- MONOCLE (FRANÇA)
- MARCAL (América Latina)
- CALCO (Brasil)
- UNIMARC (Universal)
1969
👉 Publicada a tradução do AACR para o português
👉 Acontece a RIEC: reunião internacional de especialistas em catalogação, cujo objetivo principal era conseguir , em âmbito internacional, uma padronização da catalogação descritiva.
Nessa reunião, Michael Gorman apresentou o seu trabalho denominado “International Standard Bibliographic Description – ISBD”, no qual comparou os métodos descritivos de 8 bibliografias nacionais e sistematizou a ordem das informações e a pontuação utilizada antes de cada informação, tornando possível seu reconhecimento pelos computadores.
1971
👉 Após apreciação internacional do trabalho de Gorman, foi publicada pela IFLA a ISBD (M), isto é, para monografias. Todos os países se dispuseram a usá-la e esta aceitação acarretou mudanças nos códigos de catalogação. Esse marco representou um real acordo no caminho da padronização.
1972
👉 Alice Principe Barbosa defendeu sua dissertação de mestrado acerca do projeto CALCO, baseado no MARC II.
1973
👉 A LC cria para o MARC uma estrutura de organização dos dados em fita magnética, que se tornou norma internacional estabelecida pela ISO: a ISO 2709.
1978
👉 Publicada a Anglo-American Cataloging Rules 2nd edition: AACR2, que foi editada de acordo com os Princípios de Paris e da ISBD.
Década de 80
👉 O projeto CALCO adotou o nome de Bibliodata/CALCO. Fazia uso do formato CALCO (CAtalogação Legível por COmputador).
1990
👉 Aconteceu o Seminário sobre registros bibliográficos, no qual surge a criação de um grupo para definir os requisitos funcionais para registros bibliográficos.
1994-96
👉 O Bibliodata/CALCO passou a se chamar Rede Bibliodata e passou a utilizar o formato USMARC. Este foi o maior sistema do país em termos de catalogação cooperativa.
1995
👉 Nova norma americana para intercâmbio de registros bibliográficos: z39.50.
👉 Aconteceu um Seminário em Dublin Core, organizado pela Online Computer Library Center (OCLC) e o Nacional Center fos Supercomputing Applications (NCSA) para o desenvolvimento de uma ferramenta de descrição para registro de objetos eletrônicos em rede: os metadados. O nome do padrão Dublin Core se deve ao local de realização do encontro.
1998
👉 Publicados pela IFLA os Functional Requirements for Bibliographic Records – FRBR, queinfluenciaram o desenvolvimento de outros modelos conceituais e provocaram revisões das ISBDs e dos códigos de catalogação.
1999
👉 É criado o MARC 21: O USMARC e o CANMARC desenvolveram estudos para eliminação de suas pequenas diferenças. O resultado foi a publicação do MARC 21, ou seja, o formato para o século XXI, não mais vinculado a um país ou grupo linguístico, porém voltado ao uso internacional. Já se encontra traduzido ou adaptado para diversos idiomas, inclusive o português do Brasil
2003
👉 Aconteceu o primeiro de uma série de encontros promovidos pela IFLA para a discussão de novos princípios para catalogação.
👉 Publicada a versão preliminar da Declaração dos princípios internacionais de catalogação ou Declaração de Frankfurt, que ampliou e atualizou os Princípios de Paris, pela incorporação do modelo conceitual FRBR.
2004
👉 O Joint Steering Comitte for Revision of AACR (Comitê de revisão do AACR) passa a se chamar Joint Steering Comitte for deveploment of RDA (Comitê de desenvolvimento do RDA). Isso porque as mudanças substanciais dessa revisão não comportavam mais em outra edição do AACR (ou o que seria o AACR3), dando origem ao sucessor do AACR2 o RDA.
2009
👉 É publicada a 1ª edição da Declaração dos princípios internacionais de catalogação: substituiu e ampliou explicitamente o escopo dos Princípios de Paris.
👉 É publicado o modelo conceitual Functional Requirements for Authority Data (FRAD): Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade.
2010
👉 É publicado o modelo conceitual Functional Requirements for Subject Authority Data (FRSAD): Requisitos Funcionais para Autoridades de Assunto.
👉 É publicado oRDA Toolkit: novo código de catalogação que veio para substituir o AACR2. Encontra-se de acordo com os FRBR e o FRAD e com as Declarações dos princípios internacionais de catalogação.
2016
👉 É publicada a 2ª edição da Declaração dos princípios internacionais de catalogação que, agora, leva em consideração as novas categorias de usuários, o entorno do acesso aberto, a interoperabilidade e acessibilidade aos dados, as características das ferramentas de descobertas e, em geral, as significativas mudanças no comportamento dos usuários.
2017
É publicado o IFLA LRM: Modelo Conceitual para a Informação Bibliográfica, que surge a partir dos 3 modelos da família FR (FRBR, FRAD e FRSAD), consolidando-os.
🤓 Como cai em concursos
13 (IBADE – Pref. de Vila Velha – 2020) A história da catalogação registra, no século XIX, a questão que ficou conhecida como Batalha das Regras. Em 1841, ____________________________ e seus colaboradores da Biblioteca do Museu Britânico publicaram um folheto contendo 91 regras destinadas à catalogação do acervo daquela biblioteca.
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna.
A Anthony Panizzi
B Charles C. Jewett
C Charles Ammi Cutter
D Shiyali Ramamrita Ranganathan
E Melvil Dewey
14 (IF-CE – IF-CE – 2016) O processo de catalogação e a elaboração de catálogos de biblioteca são tarefas da atividade bibliotecária. O pioneiro da catalogação cooperativa foi
A Melvil Dewey.
B Richard Rogers Bowker.
C Charles Jewett.
D Lydia de Queiroz Sambaquy.
E Justin Winsor.
15 (CESPE – TC-DF – 2014) As funções e os objetivos do catálogo, na perspectiva de Cutter, estão centrados na relação acervo/leitor, e não catálogo/acervo.
16 (COPEVE – UFAL – 2016) Na história da representação descritiva, dados os instrumentos de catalogação,
I. Código de Panizzi e AACR2.
II. AACR2 e catálogo cardex.
III. Código da Vaticana e Código de Jewett.
IV. Código de Jewett e Instruções prussianas.
verifica-se que estão corretos apenas
A I e IV.
B II e III.
C II e IV.
D I, II e III.
E I, III e IV.
17 (FADESP – UE-PA – 2020) Os “Princípios de Paris” foram aprovados pela Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação e deram origem a alguns códigos de catalogação, entre eles, o AACR. Em momento posterior, as AACR2 propiciaram mais coerência nos registros de dados bibliográficos (OLIVER, 2011, p. 47). A Conferência Internacional sobre Princípios de Catalogação ocorreu em
A 1960.
B 1961.
C 1962.
D 1963.
18 (CESPE – ANATEL -2009) AACR é o único código de catalogação utilizado no ensino brasileiro, mantendo a mesma estrutura desde sua publicação, em 1961.
19 (FEPESE – Pref. de Florianópolis – 2016) A catalogação cooperativa automatizada que atualmente permite a cooperação e o compartilhamento de informações catalográficas entre os catálogos de diversas instituições no ambiente automatizado, somente se tornou possível com a criação e a adoção de um formato de intercâmbio na década de 1960. Assinale a alternativa que apresenta o nome deste formato e quem o desenvolveu:
A Dublin Core, desenvolvido pela Consórcio W3C.
B Formato CCF (Common Communication Format), desenvolvido pela Unesco.
C Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR), desenvolvido pela International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA).
D On-line Computer Library Center (OCLC), desenvolvido pela Library of Congress (LC).
E Machine Readable Cataloging (MARC), desenvolvido pela Library of Congress (LC).
20 (CESPE – Banco da Amazõnia – 2012) Os formatos MARC I e II deram origem ao formato USMARC, que, depois, originou, juntamente com o formato canadense CAN/MARC, o MARC21.
21 (FDC – Fiocruz – 2014) Uma iniciativa da Biblioteca do Congresso Americano, desenvolvida na década de 1960, teve como proposta converter os dados contidos nas fichas impressas dos catálogos manuais em dados legíveis por computador. Esse sistema, que resultou em uma base de dados compartilhada por outras bibliotecas norte-americanas e internacionais, atualmente é denominado:
A AACR2R.
B UNITERM.
C CALCO.
D MARC 21.
E MOSAIC.
22 (IBFC – SES-PR – 2016) A catalogação Cooperativa, em que várias bibliotecas adotam a mesma norma, teve grande avanço com o emprego de técnicas automatizadas. Assinale abaixo o sistema que no Brasil é um tipo de catalogação cooperativa:
A Dedalus
B Bibliodata
C Cielo
D OCLC
23 (FUNDEP – Pref. de Santa Bárbara -2018) Analise as afirmativas sobre os FRBR e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.
( ) Advêm de mudanças ocorridas na natureza e nos processos da catalogação.
( ) Foram criados para influenciar o campo teórico, conceitual e prático da catalogação, com foco nas necessidades dos usuários.
( ) Foram publicados em 1960, em decorrência de estudos conduzidos pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e pelo IBICT.
( ) Têm como finalidade apresentar códigos e determinações de conteúdo para codificar registros que são legíveis por máquina.
Assinale a sequência correta.
A F V F V
B F F V V
C V F V F
D V V F F
✔️Gabarito
13- A – Embora a prof. Memória e as professoras Mey e Silveira apontem a data como 1839, em algumas fontes é dito que a publicação foi entre 1839-1841.
14- C
15- C – Cutter já tinha a preocupação de que a catalogação deveria facilitar a experiência do usuário.
16- E – Cardex ou Kardex é um registro para controle de publicações em série (como periódicos, por exemplo) e não um código de catalogação.
17- B
18- E – Questão triplamente errada porque: 1. Também foi muito utilizado no Brasil o Código da Vaticana; 2. O AACR já foi revisado várias vezes, inclusive houve uma 2ª edição com estrutura completamente diferente da 1ª, que foi o AACR2; 3. O AACR foi publicado em 1967.
19- E
20- C
21- D
22- B
23- D
📚 Referências bibliográficas
CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordélia Robalinho de Oliveira. Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia. Brasília: Briquet de Lemos, 2008. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/34113. Acesso em: 22 nov. 2020.
IFLA. Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação (PIC). 2016. Disponível em: https://www.ifla.org/files/assets/cataloguing/icp/icp_2016-pt.pdf. Acesso em: 03 dez. 2020.
MEY, E. S. A.; SILVEIRA, N. C. Catalogação no plural. Brasília: Briquet de Lemos, 2009.
RIBEIRO, Antônia Motta de Castro Memória. RDA, recurso, descrição e acesso versus AACR2, código de catalogação anglo-americano, segunda edição: um estudo comparativo. Editora Três em Um: Brasília, 2018.
Muito bom. Obrigado.
Amei! Simples assim…